Declare this an emergency
come on and spread a sense of urgency
and pull us through
and pull us through
and this is the end
this is the end of the world”
come on and spread a sense of urgency
and pull us through
and pull us through
and this is the end
this is the end of the world”
(Muse – Apocalypse please)
O dia estava um pouco enrijecido pelo frio. Finalmente um daqueles dias de outono em que ela podia sair de luvas coloridas ao lado da mãe. Saíam para fazer compras, afinal logo seria o seu aniversário e preparariam uma grande festa.
Ela esperava que a mãe estivesse mais animada, mas mesmo fazendo várias brincadeiras, não conseguira fazer brotar aquele riso sincero que fazia com que ela não se sentisse só. Andavam rapidamente em direção ao centro da cidade, havia congestionamentos mesmo na segunda-feira e, além disso, o som da cidade ecoava por todos os ouvidos, as buzinas, os passos, a pequenina mulher tentando agarrar sua mão e prometendo o futuro, o rolar das portas causado pela abertura das lojas, os pneus rolando, a confusão das vozes e dos gritos 2 por 10 de um vendedor de dvds na calçada. Sua cabeça se abria em um labirinto - cogita se o telefonema do seu pai, no dia anterior, chateou a mãe, ou, se talvez o aborrecimento fosse somente porque a mãe não gostava de vê-la assistindo àquela série muito adolescente que passava todos os dias, ou talvez estivesse insatisfeita por causa das notícias do mundo. Já não estava tudo muito violento? Sempre ouvia a mãe dizer que em outros tempos as coisas não eram assim, que tudo era melhor. Também ouvia seu avô dizer que no tempo dele tudo era ainda melhor que no tempo da sua filha. Às vezes, quando percebia, estava em alguma aula e imaginava como eram as aulas que sua mãe ou seu avô tiveram e percebia-se numa encruzilhada quando, em alguma aula de história ou em algum tempo navegando na internet, via que sempre houvera guerras e disputas, inclusive na época de seu avô e, pior, as pessoas não podiam dizer o que pensavam, eram presas não sabiam bem o porquê. Caíam estatelados no chão os sonhos com os quais ela criava um mundo grande e melhor do que agora e, é claro, provavelmente, a professora já teria apagado uma parte do que escrevera na lousa e ela não teria copiado.
Um cheiro acre e que lhe lembrava urina do seu gato misturada com vômito tomou toda a rua pela qual passavam.
Mãe, que é isso?
Shhh... é o moço ali – respondeu baixinho.
Mas, mãe, por que a gente não ajuda ele? O cabelo dele tá fazendo ele parecer o homem das cavernas do meu livro de história. Vamos levar ele lá na tia Marta pra ela cortar.
Não fica olhando. Não fica olhando, Érika. Érika!
Foi quando o mendigo, que tinha roupas esfarrapadas e o cabelo e barbas há muito por serem feitos, e o cachorro com quem ele brincava, olharam para mãe e para filha. Érika achou que aqueles eram olhares tristes, mas não teve muito tempo para pensar, pois só viu a boca do homem mexendo e viu que se dirigia a sua mãe:
Ô Dona, não precisa ter medo não. Não vou roubar sua filha, já tenho o meu aqui. Não sou ruim não, só bebo um pouquinho, né, Moby Dick? Mas é solução pra vida, num é não? Tem gente que num enxerga o problema, eu enxergo a solução, moça... tudo muito ruim e num tem emprego, não...Só Moby Dick fica aqui com...
Mas não foi possível ouvir nada mais, os passos rápidos e puxões da mãe deixaram pra trás o ar pesado e as palavras perdidas do homem. Como ele havia ficado assim? Sem ninguém e sem lugar?Aqueles pensamentos passaram rápido como os puxões da mãe. Afinal, o passeio era longo: loja de brinquedos, loja de festa, quem sabe uma oferta de sorvete e, a última parada seria o banco. Todavia, não sentira medo...
○○○○
Rubens sabia bem como a vida estava um terror. Era seu último ano num curso de humanidades e ele nunca soubera bem qual deveria ter sido seu lugar durante todos os quatro anos. Talvez se importar com isso fosse uma grande bobagem, pensava nos diversos estilos de vida que cada um escolhia para si, e, refletia, na faculdade essa é uma das maneiras de separar os grupos. Desempregado, estudando coisas que o faziam refletir sobre muitos assuntos que sempre gostara, a vida passando, as pessoas gritando ali, outras conversando aqui, ele sempre sem rumo e se deparando com a crítica de um filósofo sobre o fato de parecer estranha e deslocada à sociedade a entrega de um sujeito a algo que não serve para algum fim.
Enquanto alguns diziam “Mas você ainda é muito novo, tem tempo para decidir”, outros comentavam “Olha, mas você vai fazer o quê quando se graduar? Ainda não sabe?”, sentia-se numa encruzilhada, só que sem opções. Ultimamente só pensava em dormir e amaldiçoava todos os dias, que o esperavam com mais e mais tarefas e problemas e questões existenciais. Não mais sentia fome e, quando sentia, costumava comer qualquer coisa enlatada. Havia tempos não via sua família, só conseguia pensar nos afazeres e na falta de vontade de seguir com os mesmos, além da iminência das provas finais. Acabou nem reparando que aquilo que um dia lhe proporcionara prazer, agora estava jogado em um porão trancado.
Sempre fora muito ansioso, mas com o tempo começara a ter algumas doenças relacionadas ao nervosismo e às preocupações, sua asma se agravara, seus cabelos caíam em proporções anormais – houvera a necessidade de dizer ao médico que mais de 100 fios caíam por dia para que ele ficasse em dúvida entre estresse e alguma herança genética-, adquirira uma úlcera que não o deixava dormir nas poucas noites em que não tinha insônia. Suas olheiras haviam aumentado consideravelmente e agora era comparado a diversos personagens da literatura popular.
Hoje era um daqueles dias cheios para Rubens, quiçá também fosse um dia cheio de Rubens. Ele acordara às seis, pegara dois ônibus com pessoas grudadas em janelas até chegar à faculdade, enquanto tentava ler o segundo dos três textos para a aula das oito horas. Depois das aulas, ele comera uma maçã e um sanduíche que trouxera de casa e nos intervalos desse almoço, digitara um artigo acadêmico que tinha como prazo máximo de entrega quarenta e oito horas. Após algum tempo, dirigira-se a uma reunião do jornal da faculdade, em que ele escrevia. Fez tudo isso sem indagar-se em nenhum momento se o que fazia era certo, bom ou suficiente. Atrasado, percebeu que precisava pegar o ônibus em direção ao centro da cidade e cumprir alguns afazeres como ir à farmácia, pagar contas e procurar emprego.
No caminho, conversas e músicas vindas de diversos celulares ecoavam, enquanto ele cochilava com o balanço do ônibus e batia, incessantemente a cabeça no vidro a cada lombada, buraco ou parada. Até o frio parecia abafado no percurso. Mais pessoas entravam.
○○○○
Tudo parecia estar em ordem.
A tarde correra sem mais incidentes, apesar da demora e da indecisão de mãe e filha em escolherem o que seria melhor para a festa e o que agradaria mais as pessoas. O aniversário era uma festa esperada por Érika, mas ao mesmo tempo, ela sentia medo. Haveria muitas pessoas e muitas expectativas num mesmo lugar. Se pelo menos fosse uma época em que ela estivesse menos marcada, com menos problemas na escola, com menos dificuldades na família. Estigmas demais e concretizações de menos, era isso que ela pensava, embora não com essas palavras. Pensando agora, talvez fosse isso que preocupasse sua mãe: ir a cada dia em um médico ou terapeuta diferente. Já a levara a todos os tipos, psicólogos, psicanalistas, psicopedagogos, neurologistas, cardiologistas, acupunturistas e outras tantas opções. Nada tirava essa atitude contemplativa e a lentidão da filha, enquanto isso, no prontuário médico os mais diversos diagnósticos rapidamente chegavam.
Entravam e saíam da última loja.
Érika não conseguia achar os problemas de que tanto falavam os médicos, mas via problemas na sua própria família - nenhum médico ia visitar sua casa, muito menos se propunha a trocar de lugar com ela por alguns dias. Seus pais viviam juntos até alguns meses, quando ela viu a “maior briga do universo”, como definia, “maior até do que a do desenho, ontem”. A mãe ficara muito infeliz, além de jogar pratos na parede e tentar bater no pai, só que ela não tinha tanta força e acabara sendo empurrada e quebrara o braço. Depois daquele dia, não se falavam mais, mas Érika não se esquecera das moças ainda mais jovens que sua mãe que almoçavam na sua casa e que o pai trazia para ajudar no trabalho. Sempre soubera que alguma coisa estava errada. Após o episódio da briga, sua mãe tivera que se desdobrar para continuar trabalhando, pagando os médicos – desnecessários-, cuidar dela e da casa. Via o pânico, a insatisfação, os choros e o esforço da mãe. E ficava triste também, ainda que só observasse.
Gostaria de fazer mais pela mãe e de deixá-la despreocupada.
Estavam a dois quarteirões do banco.
○○○○
Ele já havia comprado os remédios que resolviam parte de seus problemas. Caminhava a passos rápidos, perdido em músicas que tocavam em seu ipod. “Cadillac used to be a Benz (hey, get out of the street)”. Não tinha dúvida, era um dependente químico, ainda que tivesse as receitas. Sempre pensava que, ao menos, não tinha problemas com cigarro. Contudo, tinha vários outros, tomava antidepressivos e calmantes, além daquele que não deixava sua hipertensão lhe matar. “I'm just a no-name reporter I wish I had nothing to say”. Precisava correr, ou não teria tempo para distribuir mais currículos e chegar em casa para cuidar da irmã e estudar e se preparar para as tarefas do dia seguinte e...
Ele estava no chão. Nem percebera que esbarrara violentamente em alguém. Ouvia latidos, enquanto exigia que o espaço ao seu redor parasse de rodar. Sentia uma dor latejante no braço, ainda um pouco atordoado. Casa, estresse, ônibus, emprego, desemprego, faculdade, banco. Banco, estava indo ao banco. Olhou ao seu redor e colocou um dos fones que haviam saído de seu ouvido no lugar em que estavam antes. “Looking through my new camcorder, trying to find a crime that pays”. Reparou o provável, se esbarrara teria que ser em alguém. Viu que havia um homem no chão, com roupas puídas e cheirando sujeira, um cachorro latia. Apalpou seus bolsos e viu que a carteira ainda estava lá. Resolveu ver se o homem estava bem, só o que faltava para atrasá-lo ainda mais era um morador de rua ter se machucado e ter que levá-lo ao hospital.
- O senhor me desculpa, não vi que alguém tava vindo...
- Ah, filho, eu sei como é a vida do cêis, estudante, tem que ser cabeça. Eu também estudei, vivia com a cabeça nas finanças. Pára, Moby Dick, pára. O moço veio ajudar.
O cachorro ficou rosnando e olhando com uma expressão que o menino definiria como ciumenta, por não ouvir bem o que o homem dissera, Rubens ajudou-o a se levantar e tirou os fones do ouvido.
- E olha que eu estudei hein, mas bebi, bebi e fiquei bebum, só um pouquinho, a mulher chutou, a empresa também e eu fiquei assim ó – ele virava os dedos em direção à boca, como quem entorna uma garrafa. – Você devia é aproveitar a vida, em vez de olhar pra baixo enquanto anda, né, filho! Pensar em outras coisas, um pouco. Ah, obrigada pela ajuda, num tem um trocadinho, não? Não?
Ele virou as costas e andou sem olhar para trás. A música tocava novamente. “I get hit by the mortars, Everywhere I go I’m loitering, Chaos and disorder ruinin’ my world today”. Saiu caminhando, com o braço respingando sangue, do tombo. Irritou-se. Quem era esse cara pra dizer o que ele devia fazer? Duvidava muito que o homem realmente tivesse tido um bom emprego, ele devia é não ter vontade de trabalhar. Ao menos, Rubens tinha. Mas, não encontrava nada. E, ao menos, ele não bebia.
○○○○
Ela achava a porta giratória do banco uma coisa tremendamente bizarra. Enquanto esperavam, via diversas pessoas voltarem muitas vezes e depositarem três, cinco ou sete objetos, que variavam entre molhos de chaves, pendrives e relógios.Faltavam mais duas pessoas serem atendidas antes de sua mãe. Mais pessoas passavam pela porta.
“Por favor, deposite seus objetos metálicos ao lado”. Pó-rón. Era a senha chamando a pessoa anterior à sua mãe. Puu-run. Agora era o som da senha 550 para se dirigir até o caixa em que se deposita e paga contas.
“Por favor, deposite seus objetos metálicos”. A cada vez que se ouvia essa frase, muitas cabeças olhavam em direção à porta. Ela também olhou. Era um moço tentando passar, ele carregava uma mochila grande e havia deixado seu celular, suas chaves e seu pendrive. Procurava o que podia ser a coisa que atrapalhava sua entrada. Puu-run. Escolheu o guarda-chuva e tentou. “Por favor, deposite seus objetos metálicos”. Os guardas olhavam desconfiados. O rapaz voltou. Para Érika, ele não tinha cara de mau sujeito, mas ela sabia que as aparecias enganavam, ou era isso que tinha lido em algum lugar. Ele parecia cansado, seu rosto aparentava uma rigidez esquisita e suas sobrancelhas estavam franzidas. Também tinha uma careta na cara, que, ela imaginou, devia ser sua cara de emburrado. Dessa vez, ele depositava o porta-moedas e a carteira. “Por favor, deposite seus objetos metálicos”. Puu-run. Uma fila de pessoas ia se formando atrás dele e o guarda finalmente se moveu, dizendo que ele precisava ver a mochila do rapaz. O rapaz, mais emburrado ainda, disse que tudo bem. O guarda olhou e conversou com outro guarda. Então, ao sinal de mais um “Por favor, deposite seus objetos metálicos”, o guarda empurrou a porta e o moço entrou. Puu-run. Ao recolher tudo que ele havia depositado, ela aproveitou para tentar espiar pela mochila aberta. Parecia que só havia um fichário, mas isso não era nada emocionante, nem parecia suficiente. Ela só não sabia que fichários também disparavam o sensor da porta.
Pó-rón. Sua mãe foi em direção ao atendente.
Puu-run. O rapaz pegou uma senha e sentou-se a duas cadeiras vazias de Érika.
Havia muitas cadeiras e pessoas de todos os tipos. Por exemplo, um senhor que olhava no relógio a cada segundo - embora isso seja difícil, era o que lhe parecia. Puu-run. Uma mulher com quatro filhos que corriam pelo banco e gritavam como estivessem um em cada país, numa ligação horrível e com linha cruzada. Puu-run. Começava a se inquietar também, apesar de observar cada pequeno detalhe. O rapaz, ao seu lado, abrira um livro muito grosso e lia, ela percebeu que ele tinha um corte no braço.
- Você quer ler? – sobressaltou-se com a pergunta. Rubens olhava pra ela, numa mistura de irritação e divertimento.
Puu-run.
- Não sei ler direito. Os médicos dizem que eu tenho problemas.
- Mas você não consegue ler o nome do livro?
Ela pensou um instante. Sim, conseguia, e disse em voz alta.
-Ah, tá vendo. É bom ler, é um jeito de escapar. Cadê seu pai ou sua mãe?
- Minha mãe tá ali, no caixa - ela olhou e viu que a mãe estava com uma expressão triste e discutia por alguma coisa – Que número você é? Do que tá tentando escapar?
- Eu sou o 568. Escapar das coisas ruins, às vezes os livros ajudam. Esse barulho da senha não te irrita? Minha cabeça está doendo e eu preciso ler.
Ela concordou com o escapar, mas não sabia se era verdade. Não lia porque diziam que ela não sabia ler, apesar de conseguir ler todas as placas da rua. Eles conversaram por mais alguns minutos, cada um com sua dor escondida, tocando certeira e levemente em alguns pontos, mas nada substancial. Érika pensava que ele devia ser muito inteligente, reclamando sobre uma tal de burocracia do banco e sobre a porta – nesse ponto ela concordou veementemente. Rubens, com o braço latejando e um começo de enxaqueca, pensava que aquela era uma criança que já carregava um mundo nas costas e era destruída pela sociedade aos poucos.
○○○○
Finalmente estava em casa. Sentia que sua cabeça explodiria a qualquer momento. Quando tinha enxaquecas, não conseguia mais continuar com tarefa alguma. As pontadas começaram após seu encontro com o morador de rua e tornaram-se insuportáveis depois que entrara no último ônibus que viria para casa. Certificara-se que a irmã estava bem e trancara-se no seu quarto. Parecia que alguém puxava cada um dos seus fios de cabelo e gritava com ecos em seus ouvidos. Colocou uma música no rádio, mas os sons no ouvido diziam que ele era um vagabundo, que não fazia suas tarefas direito, que deveria se esforçar mais. Eram intermitentes e guturais.
Escolheu uma combinação de remédios e uniu-os aos remédios de rotina.
○○○○
A mãe havia dado broncas no caminho, sobre não falar com estranhos, sobre ficar no mundo da lua, pensando em nada. Marcaria uma consulta em outro médico e pediria algum medicamento que controlasse a atenção da filha.
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A mãe havia dado broncas no caminho, sobre não falar com estranhos, sobre ficar no mundo da lua, pensando em nada. Marcaria uma consulta em outro médico e pediria algum medicamento que controlasse a atenção da filha.
Érika estava cansada. Não tinha culpa da falta de sucesso em conseguir dinheiro no banco. Não sabia que precisavam tanto assim, não sabia como ajudar. Se pudesse voltar atrás. Para que uma festa de aniversário? A mãe havia oferecido e ela aceitara. Não queria mais. Não queria ser chamada de lerda, burra ou qualquer outro nome que ouvia, até de sua professora e, agora de sua mãe. Não queria ir a mais de dez diferentes médicos com opiniões esquisitas. Sentia raiva e chorava silenciosamente. Ela desejava morrer. Suas luvas coloridas estavam encharcadas de lágrimas e seus soluços eram abafados por seu corpo em posição fetal. Não se lembrara em nenhum momento de livros. Sua mãe, ocupada, fazia contas e procurava outros bancos para ir, nem sequer havia percebido que a cada momento feria mais. Só queria conversar, ninguém conversava... não sabia de nada, a não ser aquilo que ela mesma descobria. Queria crescer de uma vez, queria poder agir. Não podia fazer nada, por enquanto...
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Os ruídos diminuíam, mas, em compensação, o mundo todo girava. Ele sentia uma espécie de neblina envolvendo-o, aquecendo-o. De repente, tudo começou a ficar quente, muito quente, insuportavelmente quente. Era o inferno. Ele sabia. Os ruídos continuavam, mas agora sabia que havia palavras, contudo não conseguia decifrá-las. Ficava ainda mais quente e mais difícil de sentir o ar, entrando e saindo do corpo. Ele queria pedir ajuda, mas, ao menor sinal de movimento, sentia que o sanduíche da hora do almoço jorraria de sua boca. Não se sentia bem, estava difícil respirar, era difícil manter o foco em qualquer lugar, a vida era difícil... O que estava acontecendo? Morria? Vivia? Não conseguiria ler o suficiente para amanhã, nem nunca. A música não parava de soar.
Já houve um tempo em que o tempo parou de passar
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Os ruídos diminuíam, mas, em compensação, o mundo todo girava. Ele sentia uma espécie de neblina envolvendo-o, aquecendo-o. De repente, tudo começou a ficar quente, muito quente, insuportavelmente quente. Era o inferno. Ele sabia. Os ruídos continuavam, mas agora sabia que havia palavras, contudo não conseguia decifrá-las. Ficava ainda mais quente e mais difícil de sentir o ar, entrando e saindo do corpo. Ele queria pedir ajuda, mas, ao menor sinal de movimento, sentia que o sanduíche da hora do almoço jorraria de sua boca. Não se sentia bem, estava difícil respirar, era difícil manter o foco em qualquer lugar, a vida era difícil... O que estava acontecendo? Morria? Vivia? Não conseguiria ler o suficiente para amanhã, nem nunca. A música não parava de soar.
Já houve um tempo em que o tempo parou de passar
E um tal de homo sapiens não soube disso aproveitar
Chorando, sorrindo, falando em calar
Pensando em pensar quando o tempo parar de passar
Bruna Elisa Frazetto